Ney Matogrosso passou pela cidade com sua nova turnê, Atento aos Sinais, no domingo, 03 de novembro.
Em Atento aos Sinais veremos uma seleção de grandes canções da MPB, mas músicas da sua carreira, até mesmo do tempo do Secos e Molhados, vão estar presentes?
Não, só toco uma música do Secos e Molhados no bis. Gosto da produção que tive ao longo da minha carreira, mas o que me interessa de fato é a novidade. Sempre busquei a inovação. Eu sempre tenho algo novo a dizer.
Mesmo tendo deixado as maquiagens e figurinos carregados para trás, você ainda considera seus espetáculos performáticos?
Mas este espetáculo é muito performático! Voltei com tudo para cima do morro (risos). O cenário, o figurino é tudo muito bem trabalhado. O figurino, inclusive, foi minha ideia. A primeira calça, com as escamas, fui eu quem desenhou ao lado do Milton Cunha, meu parceiro de longa data, que também me ajudou na concepção do cenário. Foi ela quem serviu de molde para todas as outras, mas elas são diferentes em cada apresentação. Não queria usar apenas uma roupa no palco, quero dar ao público um espetáculo único.
Após cerca de 30 discos gravados, dá para enumerar algumas músicas pelas quais você tem um apego maior?
Já abri e encerrei shows com várias músicas. ‘Mulher Barriguda’, ‘Fala’ e ‘América do Sul’ são as que eu mais destacaria. Mas nessa turnê não as quis colocar, não foi por não querer colocar, só por que as canções são velhas. Eu canto músicas do Caetano Veloso da década de 80. A canção ‘Roendo as Unhas’ do Paulinho da Viola foi gravada em 1973! Para uma música entrar no meu repertório ela tem que caber no que eu quero falar, se encaixar na minha proposta. O que é de fato fundamental para mim é a letra da música ser boa, a melodia, o ritmo, tudo me encanta, mas a letra tem que expressar tudo que eu tenho para dizer.
Mesmo após tanto tempo de trabalho, você ainda é considerado um dos artistas mais originais e versáteis da música brasileira. Como você se mantém sempre “novo”?
Não tem receita. Acho que isso é uma questão mental, de como você trabalha sua cabeça. Sei que não demostro minha idade, mas a conheço bem. Para não se deixar parar nós temos que estar sempre abertos ao mundo, me mantenho esperto, quase um trocadilho com o nome da turnê [‘Atento aos sinais’].
Com 40 anos de carreira, que visão você tem das novas bandas que estão surgindo? Que novos artistas agradam seus ouvidos?
Gosto de botar desconhecidos na roda, mas é cada vez mais difícil. Dos que chegaram a minha mão, existe muita gente muito boa. O problema é conseguir um espaço, tocar nas rádios. Da mesma forma que gravar um disco se torna cada vez mais fácil, ser ouvido tem se tornado cada vez mais difícil. Ainda assim, nesta turnê canto músicas do Criolo, do Dani Black. Mas tenho certeza que ainda há muito por conhecer.
Como você recebeu a notícia da morte de Lou Reed, do Velvet Underground? Ele influenciou seu trabalho?
Ah, é uma pena. Não posso dizer que o Velvet Underground influenciou o meu trabalho, mas gostava do trabalho e da pessoa dele. Quando ele lançou aquele disco que tem uma banana na capa [The Velvet Underground & Nico, 1967] eu carregava o LP embaixo do braço para onde quer que fosse. É uma perda triste para a música.
E na questão das biografias não-autorizadas? Você se importaria que fizessem um livro contando sua vida?
Não, de forma alguma. Já até fizeram um uma vez, mas na verdade não gostei muito dele, era mal escrito. Mas não me oponho a fazerem os livros. Essa é uma história muito polêmica, quem antes defendia uma coisa já está mudando de lado de novo. Mas minha opnião é sempre a mesma com relação a isso: biografia não tem que ter autorização. Só o que defendo é que as pessoas tem que ser pagas pelos produtos que se derivarem destes livros, elas têm que ter direito de ganhar com a própria imagem. Para o livro não estou nem aí, mas os subprodutos, como filmes e séries de televisão, onde realmente corre o dinheiro, deveriam remunerar o artista que está sendo retratado.
PS: Tenho produzido muito, mas me falta tempo de publicar tudo aqui no blog, vou fazendo as atualizações aos poucos, espero que me perdoem